
Upcycling do cacau: chocolate vem da semente, mas fruto pode virar refri
Upcycling da fruta do cacau pode produzir refrigerante prebiótico natural e sustentável
O chocolate é um dos doces mais amados do mundos e há países que consomem quase 10kg de chocolate per capita por ano.
Há mais no fruto do cacau do que apenas suas sementes e que, normalmente, são descartadas.
As sementes dentro de cada vagem colorida estão envoltas em uma polpa branca e doce. Essa polpa e o suco que dela provém são descartados durante o processo de fabricação do chocolate.

Quase ninguém estava fazendo algo com esse suco. Mas uma empresa percebeu que isso era um desperdício e resolveu acatar os princípios do upcycling e criar um refrigerante a partir da fruta.
Trata-se da Xoca, que criou uma bebida prebiótica totalmente natural e única, que beneficia o planeta e dão utilidades para algo que antes eram uma oportunidade perdida.
A Xoca
A Xoca é uma startup de bebidas funcionais que está trazendo ao mercado uma linha de bebidas energéticas únicas e naturais, além de bebidas prebióticas feitas a partir das partes descartadas e subvalorizadas do fruto do cacau.
A empresa nasceu com a ideia de converter esse recurso descartado em uma oportunidade para agricultores e consumidores – o famoso cenário ganha-ganha.
O upcycling – processo de transformar subprodutos ou outros materiais “desperdiçados” em novos produtos – entra em ação na produção dos novos refrigerantes, que dão um uso ao notável fruto do cacaueiro.
Upcycling do suco do cacau
A Xoca obtém o fruto do cacau de um grupo de pequenas fazendas familiares no Equador. Antes, o suco era literalmente despejado no chão ou no curso de água mais próximo.
Agora, para obter o suco, a startup trabalha diretamente com os agricultores e fornece a eles o equipamento e treinamento necessários para coletar o suco na fazenda logo após a abertura das vagens de cacau.
Uma vez coletado, o suco é reduzido a um mel rico, através de um processo de aquecimento suave. Esse mel é então enviado para os Estados Unidos, onde é usado para fazer o Xoca Cacao Fruit Soda – o famoso refri!

Os agricultores de cacau agora têm duas fontes de receita em vez de uma. Eles vendem as sementes de frutos de cacau para os produtores de chocolate e vendem o suco para a Xoca.
Isso aumenta os ganhos em mais de 50% por vagem de cacau. Além disso, coletar o suco também reduz seu escoamento ácido nos cursos de água locais.
Outras empresas estão expandindo suas bebidas com mel de cacau
A Blue Stripes, outra empresa norte-americana, iniciou comercializando bebidas saborizadas com o mel de cacau e atualmente conta com granola, balas de gelatina e até chocolate com o ingrediente.

Outras formas de potencializar a produção de cacau
A Xoca não é a única que tenta potencializar a produção de cacau. Um projeto de biofábricas instalou fábricas desmontáveis em quatro comunidades da Amazônia em 2023.

Lá, o cacau e o cupuaçu produzidos na região são processados pelos povos locais, e transformados em chocolate.
A iniciativa é do Instituto Amazônia 4.0 e obteve investimento de R$ 3 milhões do BID Lab, que é o laboratório de inovação do Banco Interamericano de Desenvolvimento, além da colaboração de empresas, voluntários e especialistas em chocolate.
O projeto quer potencializar o ganho das comunidades locais com as plantações de cacau e cupuaçu naturais da Amazônia.
Já falamos sobre outras iniciativas de upcycling do cacau, que podem salvar o seu chocolate aqui, aqui e aqui.
O comércio ético é essencial
Essa é uma forma de incentivar o comércio ético, essencial para estas matérias-primas não faltarem nas prateleiras de mercados num futuro próximo.
Segundo a Fairtrade Foundation, as mudanças climáticas aliadas a um comércio profundamente injusto podem tornar alguns produtos de consumo podem em breve escassos.
Produtos como café, chocolate e bananas podem sumir caso os pequenos produtores de alimentos não tenham apoio.
Outro desafio potencial enfrentado pelo comércio justo é o crescente mercado de rótulos éticos. Um mercado de rotulagem ética mais concorrido significa mais competição. De certa forma, isso é bom e isso significa que as empresas estão começando a prestar atenção aos desafios.
O risco é que, paradoxalmente, quanto mais rótulos éticos existirem, maior será a oportunidade para confusão do consumidor e greenwashing.
Referências: Curto News, Valor Econômico, Food Navigator e Upcycled Food
