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SELO VERDE: não existe resposta simples para um problema complexo

SELO VERDE: não existe resposta simples para um problema complexo

Eu sei que todo o pessoal da sustentabilidade está contente com o selo verde, mas será que não estamos felizes por pouco?

Primeiro: não vejo como a melhor opção em detrimento de outras certificações e não, não é porque eu licencio uma certificação, mas porque este selo é amplo demais e tudo que coloca nevoeiro na sustentabilidade está a um passo do greenwashing.

É ótimo que o atual governo coloque o assunto em pauta, principalmente quando lembro que o anterior era aquele em que um ministro falava em “passar a boiada” em questões ambientais. Também fico feliz com o avanço da lei da economia circular, liderada com maestria pelos nossos colegas da Ellen MacArthur Foundation.

Mas não vejo que um selo único resolva de maneira simples um problema complexo.

Quando penso em selo que uniformize uma categoria, lembro de exemplos como o da Procel, que estampa o consumo de energia de eletrodomésticos, ele uniformiza algo comum a esses produtos todos.

No selo verde, o que exatamente ele vai padronizar? Segundo o comunicado oficial, vai de rastreabilidade da produção a pegadas de carbono, passando por resíduos sólidos e eficiência energética.

Eu pergunto: produtos cuja produção seja naturalmente mais impactante ao meio ambiente, como é o caso da indústria da carne, por exemplo, desde que rastreie, compre créditos de carbono para compensar suas emissões e sua fábrica tenha painéis solares, receberão selo verde tal qual uma pequena indústria de sucos que utilize energia elétrica e não disponha do mesmo poder de compra?

Destinar todos os resíduos comestíveis limpos para a compostagem terá o mesmo valor que valorizar estes resíduos – que é o que chamamos de upcycling – transformando-os em novos ingredientes que alimentarão pessoas?

Nem vou abordar questões ainda mais complexas como remuneração justa da cadeia de fornecedores e trabalhadores ou de tópicos como obsolescência programada de bens de consumo. Vamos ficar, por enquanto, nas perguntas mais básicas.

O próprio nome “Selo Verde” pode passar a falsa impressão de sustentabilidade em setores naturalmente poluentes apenas porque se enquadram nessas amplas categorias que o selo abrange.

Não acredito que outras certificações consolidadas ligadas à sustentabilidade sejam substituídas por um selo genérico que não capta as mesmas dimensões que estas avaliam.

Também não fica claro se haverá renovação periódica do selo, o que é necessário para garantir que as empresas mantenham suas características sustentáveis ao longo do tempo.

Portanto, o fato de existir uma certificação é positivo porque mostra um esforço em certificar a sustentabilidade, mas é pouco provável que ela sozinha seja suficiente. Meu receio é o de que estejamos apenas colocando cortina em janela de cadeia, até melhora, mas não resolve o problema.

É um excelente início do esforço pela sustentabilidade, mas as empresas precisam ir além disso se desejarem ser verdadeiramente sustentáveis.

Este artigo foi referenciado no Linkedin Notícias Brasil. Veja aqui.

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