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Não é o ozempic que ameaça a indústria de alimentos, são as bets!

Não é o ozempic que ameaça a indústria de alimentos, são as bets!

No ano passado um relatório do Walmart apontou que o consumo de Ozempic causou uma “ligeira queda” no consumo de itens calóricos.

Além de serem dados do mercado norte-americano, insuficientes para dizer se o mesmo ocorre aqui, enquanto itens como snacks e doces diminuíram, as vendas de frutas e legumes aumentaram, conforme reportado pelo próprio varejista. Ou seja, seria uma queda ou apenas um rearranjo de compras?

Enquanto isso, há um fenômeno silencioso muito maior acontecendo no Brasil e que já se impacta quase 40% da população: as bets.

De acordo com um levantamento da AGP Pesquisas publicado na Folha de São Paulo, 38% da população aposta nas bets, as apostas esportivas online. Desses, 19% deixaram de adquirir itens de supermercado e 15%, de fazer refeições fora do lar. Traduzindo: as pessoas estão, literalmente, deixando de comer para jogar.

Ozempic mexe com vaidade, Bet mexe com vício. Começa aparentemente inofensivo e, ao contrário do jogo do tigrinho, ela é legalizada e movimenta R$110 bilhões ao ano no Brasil. De onde vem esse dinheiro? Sim, dentre outras coisas, da compra de alimentos.

Segundo análise do banco Santander, enquanto a participação do varejo nos gastos das famílias caiu de 63% para 57% entre 2021 e 2023, as bets passaram de 0,8% em 2018 a 2,7% em 2023.

Os bingos, que foram fechados no país em 2004, atingem jogadores mais velhos; já a aposta digital atrai os mais jovens. Impulsionados por influenciadores que apresentam as bets como um “complemento de renda” com ganhos fáceis e garantidos, é um prato cheio para fisgar cada vez mais adeptos.

Para complicar, o SUS não tem política específica para tratar essa dependência. O Caps (Centro de Atenção Psicossocial) atende álcool e drogas, mas ainda não prevê os jogos, o sistema ainda não tem essa expertise.

Uma das maneiras recém-descobertas de reduzir o vício é… sim, com Ozempic. Um estudo publicado na Scientific American descobriu que o remédio contribui para a diminuir outras compulsões além da comida, incluindo cigarro, bebidas e jogos. Talvez, considerando esse novo contexto, ele deixe de ser o vilão e passe a ser o mocinho nessa história.

E não, não estou defendendo a disseminação de um remédio tomado, na maioria das vezes, sem necessidade real (inclusive faltando para quem precisa dele de verdade), mas talvez chegue o momento em que tenhamos de escolher dos males, o menor.

Escrevi este artigo no fina de junho, em inicio de agosto 2024, no linkedin (veja aqui).

Veja aqui mais artigos de opinião no meu Linkedin Natasha Padua.

 
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