
“Cafake”: quando falta transparência, a sustentabilidade é apenas uma ilusão
Nos últimos anos, a conscientização sobre o desperdício de alimentos e a busca por práticas mais sustentáveis ganharam força. O upcycling de alimentos emergiu como uma solução inovadora, transformando resíduos em produtos de valor agregado, reduzindo o impacto ambiental e promovendo a economia circular. No entanto, nem todas as iniciativas que utilizam resíduos são sustentáveis ou upcycled. Este é o caso do “cafake”, uma proposta que, longe de ser uma ideia criativa ou inovadora, pode enganar o consumidor e manchar o trabalho sério feito na área de upcycling de alimentos.
O que é upcycling de alimentos?
O upcycling de alimentos consiste em transformar resíduos ou subprodutos que seriam descartados em novos produtos comestíveis ou úteis. Isso inclui, por exemplo, a produção de farinhas a partir de cascas de vegetais, snacks feitos com polpas de sucos ou cervejas artesanais criadas a partir de pães não vendidos. O objetivo é claro: reduzir o desperdício, agregar valor a materiais que seriam perdidos e contribuir para um sistema alimentar mais sustentável.
Para que uma iniciativa seja considerada upcycling, é essencial que haja um propósito claro de reaproveitamento inteligente e responsável, com transparência em relação aos processos e aos benefícios ambientais.
“Cafake”: uma ideia que falha em ser sustentável
O termo “cafake” parece sugerir uma abordagem criativa ou alternativa ao café, mas, na prática, a proposta se revela problemática. A ideia de adicionar resíduos de produção aleatoriamente à bebida de café, com o objetivo principal de baratear o produto, não pode ser considerada upcycling. Isso porque o upcycling não se trata simplesmente de misturar resíduos a um produto existente, mas de transformá-los em algo novo, útil e sustentável, com um propósito claro e benéfico.
Ao adicionar resíduos de forma aleatória, sem um processo cuidadoso de seleção e transformação, o “cafake” corre o risco de comprometer a qualidade do produto final e, pior ainda, enganar o consumidor. Muitas pessoas estão dispostas a pagar mais por produtos sustentáveis, mas apenas se houver transparência e um impacto positivo real. Quando uma iniciativa se apropria do termo “upcycling” sem cumprir seus princípios básicos, ela não só desrespeita o consumidor, mas também prejudica a imagem de quem trabalha com seriedade na área.

O impacto negativo no trabalho sério de upcycling
Um dos maiores problemas do “cafake” é o impacto negativo que ele pode ter na imagem do upcycling de alimentos como um todo. Quando iniciativas mal concebidas de uso de resíduos não cumprem princípios básicos de transparência, elas criam desconfiança no mercado. O consumidor pode passar a questionar a legitimidade de todos os produtos que utilizam resíduos, acrreditando que se estão colocando partes que até então eram descartadas, estão colocando insumos de baixa qualidade ou “rejeito”, “restos” e “refugo” em seus produtos.
O trabalho sério de upcycling envolve pesquisa, desenvolvimento, transparência e um compromisso genuíno com a transparência. Iniciativas como o “cafake”, que parecem priorizar o lucro em detrimento da qualidade e da ética, colocam em risco todo o esforço feito por profissionais e empresas que estão verdadeiramente comprometidos com a causa.
Veja aqui alguns exemplo de upcycling que vêm diretamente do cafezal.
Sustentabilidade exige transparência e propósito
É preciso ir além do discurso e garantir que haja um propósito claro, um processo responsável e um benefício real para o meio ambiente e para a sociedade.
Como consumidores, é nosso papel questionar e exigir transparência. E como sociedade, devemos valorizar e apoiar aqueles que atuam na construção de um futuro mais sustentável. O “cafake” pode não ser a resposta, mas serve como um alerta para a importância de não nos deixarmos enganar por propostas obscuras de barateamento de produtos.
Um exemplo bacana de upcycling é o da Beba Origem, dos nossos perceiros da Comunidade Upcycling Guilherme Salgado e Jefferson Costa, nele a bebida exalta a cáscara do café, simples e bonito, para todos entenderem.
Veja também a opinião da Natasha Pádua do seu post sobre o assunto, aqui.
