Em primeiro lugar, Arun Cherian era apenas um engenheiro mecatrônico indiano fazendo doutorado nos EUA. Ele pesquisava dispositivos de mobilidade de ponta como exoesqueletos wearable para militares e alguns projetos de inspiração biomimética (lembra dela? Tem um post só sobre inovação biomimética que vale a pena ler aqui), mas eram todos caríssimos.
Arun pensava em como a tecnologia que ele desenvolvia poderia chegar às pessoas que não podiam pagar por ela. Tudo mudou quando ele estava em sua terra natal para o casamento de sua irmã e viu cadeiras de tiras de cana em sua casa. Esses móveis eram fortes o suficiente para aguentar o peso das pessoas, leves, mas robustos para resistir ao tempo.
As próteses de cana-de-açúcar
Dessa forma, o engenheiro procurou então um artesão construindo cadeiras com tiras de cana na rua e perguntou se era possível dobrar a cana na forma de um ponto de interrogação invertido. Diante da resposta positiva ele estava convencido de que este era o material que daria mobilidade às pessoas com deficiência.
Assim nasceu a Rise Legs, agora Rise Bionics, sua startup de próteses de cana de açúcar. O que era apenas uma visita se tornou uma longa estadia na Índia. As próteses de cana de açúcar têm inspiração biomimética, o design foi inspirado em como as pernas se equilibram sobre os pés humanos e, além disso, se procurou um tipo de cana flexível e resistente para o produto.
Da prótese à cadeira de rodas de cana-de-açúcar
Arun largou o doutorado para se dedicar integralmente à empreitada. Recentemente recebeu uma bolsa do Massachusetts Institute of Technology (MIT) para escalar a empresa. Ele acabou de projetar a primeira cadeira de rodas feita de cana para jogadores de basquete. A Rise Legs está preparando uma equipe de atletas para participar da Cyblathon, uma corrida para amputados na Suíça.
Suas próteses custam a partir de Rs.10.000 (cerca de 500 reais ou 150 euros), apenas um décimo do preço de uma prótese convencional e são todas confeccionadas por artesãos da comunidade.
Mais de 50 pessoas já voltaram a andar, dançar e correr livremente com suas próteses de cana de açúcar. Inovação social que impacta a vida de quem mais precisa. Inovações que amamos!
Próteses de plástico upcycled
Como falamos acima, muitas pessoas tem buscado formas de baratear os custos das próteses. Além disso, tem se investido também em materiais que as tornem mais confortáveis e ajustadas ao corpo.
E se eu te disser que esse material pode ser o plástico upcycled?
Pois é, a iniciativa Project Circleg tem tentado combater a poluição plástica no mundo, assim como ajudar as pessoas que necessitam de próteses, produzindo alternativas de baixo custo para membros inferiores feitas de plástico upcycled.
Dessa forma, ao utilizar resíduos plásticos disponíveis localmente, a prótese Circleg pode reduzir o custo do material em até 50%. O primeiro protótipo da perna foi desenvolvido como parte do curso de design industrial na Universidade de Artes de Zurique, na Suíça.
Ou seja, o objetivo é justamente levar ao mercado próteses acessíveis e altamente funcionais para pacientes de todos os níveis de mobilidade e com renda baixa a média .
As próteses são confeccionadas com resíduos de polipropileno (PP), reforçadas com fibras de vidro. E, por fim, todas as partes dos membros são fabricadas por moldagem por injeção ou extrusão.
Sustentabilidade = inclusão
Em suma, ao falarmos de sustentabilidade, sempre nos referimos ao meio ambiente, certo?
Mas como mostramos nesse artigo, investir nessa frente também traz retornos para nós seres humanos: em qualidade de vida, em lucro e, nesse caso, em acessibilidade às próteses.
Que são divisores de águas na vida de amputados e deficientes.
Então, o que você acha de iniciativas como essas? Conta pra gente aqui nos comentários!
PS: Artigo originalmente escrito em 05/06/2017, editado e publicado aqui em 27/11/2023.
Veja mais conteudo em https://upcyclingsolutions.com.br/blog-upcycling-solutions/
Referências: Fast Company, e27, The Better India, The Indian Express, Yahoo News, Prototypes for Humanity, News MIT