Segundo a ABICAB, o consumo per capita de chocolate no Brasil é de 3 kg/hab/ano. É pouco, na Suíça cada habitante consome o triplo disso, mas já é suficiente para sermos o 5o maior consumidor do mundo.
Adoramos falar sobre Páscoa e chocolate desde 2015, quando começamos (veja aqui, aqui e mais aqui), mas precisamos falar sobre um lado amargo dessa indústria: para fazer chocolate, tudo é descartado, só se usa a semente do cacau. A casca representa 80% do peso do fruto, enquanto o mel e a polpa, 10%. O que a indústria aproveita são os 10% restantes.
De acordo com a Upcycled Food Association, se todo o cacau colhido fosse aproveitado ao máximo, reduziria a mesma quantidade de CO2 do que plantar 3,5 bilhões de árvores por ano. Uma área maior que a França e a Alemanha juntas.
Finalmente, há a remuneração dos agricultores. Na produção tradicional, eles são remunerados apenas pela colheita das sementes. O upcycling proporciona renda adicional, já que promove a venda de partes que antes eram descarte.
A start-up alemã Spoontainable, produz colheres comestíveis com cascas de sementes de cacau e de aveia para substituir os descartáveis. As colheres são estáveis por até uma hora, ideais para consumo pós-sobremesa.
A estilista holandesa Iris van Herpen fez parceria com a marca de sorvetes Magnum para criar o Magnum Vegan Dress, primeiro vestido vegano de alta costura do mundo feito de cacau. As cascas das sementes de chocolate são matéria-prima de um biopolímero impresso em 3D, finalizado com organza reciclada e revestimento de cobre.
O que fazer com a polpa do cacau? A Cabosse Naturals e a Koa transformam em ingredientes para a indústria e outras utilizam na produção de bebidas para todos os gostos. Há ainda o mel de cacau, bastante conhecido no país.
A Dengo usa casca das sementes de cacau em suas embalagens de ovos de Páscoa.
Quem está investindo nisso são duas empresas brasileiras. A Baiani usa resíduo da manteiga de cacau da produção de seus próprios chocolates para fazer hidratante.
Na produção artesanal, após a manteiga ser extraída, o resultado não é um produto branco e puro como o da indústria, então é preciso deixá-lo decantar. A massa clara vai para o chocolate enquanto a parte escura decantada agora serve para hidratar a pele.
A Cacaus Biocosméticos é o resultado do doutorado de seu fundador, que estudava microorganismos causadores de doenças no cacau, se espantou com a quantidade de cascas jogadas fora e decidiu pesquisar a matéria-prima mais a fundo. Ele descobriu uma imensa quantidade de compostos bioativos e, a partir daí, finalizou sua tese inicial e iniciou um novo projeto para o aproveitamento dos resíduos.
Os cosméticos com resíduos de cacau já passaram da fase de testes e já tem patentes solicitadas.
A venda das cascas aumenta a renda dos agricultores e ajuda e evita a proliferação de pragas na plantação, pois o fungo da vassoura de bruxa pode infectar as cascas próximas à lavoura e contaminar outras plantas.
A Barry Callebaut transforma as cascas do fruto em biochar, apelidado de “ouro negro da agricultura”. Esse biocarvão é produzido nas fábricas da empresa através do processo de pirólise, que também gera energia limpa, usada nas instalações da própria empresa e reduzindo suas emissões de CO2, já que ele armazena carbono permanentemente. Por fim, o biocarvão será usado nas fazendas de cacau como um intensificador natural de fertilizante, melhorando a qualidade do solo.
Desejamos que com todas essas inspirações, sua empresa esteja pronta para uma páscoa upcycled neste e nos próximos anos!
Fontes: Canal Rural, Forbes, Luker Chocolate, Bake Mag, Food Ingredients First, Confectionery News, Springwise, Innovation Origins, Ekko Green, Netzero, Cosmetic Innovation, Embalagem Marca. Empresas de bebidas: Kokojoo, Xoca, Kiukiu, Kayu, Blue Stripes, Pacha de Cacao, Kumasi Drinks, Pa’lante, Dengo, Barry Callebaut
