Silêncios que nutrem
Silêncios que Nutrem: curiosidade e rótulos são essenciais para Marta

Silêncios que Nutrem: curiosidade e rótulos são essenciais para Marta

Engenheira de alimentos desde 2002, Marta compartilhou experiências e aconselhou os mais novos no novo episódio do Silêncios que Nutrem

A quinta convidada do “silêncios que nutrem” é a Marta Vieira, que tem 46 anos e trabalha na indústria de alimentos há mais de 20 anos.

Formada em Engenharia de Alimentos pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em 2002, Marta escolheu a carreira guiada pela curiosidade.

“O que me levou foi a curiosidade de ser cientista, de buscar, de pesquisar, apesar de eu não ser cientista, sou engenheira de alimentos. Mas sempre gostei da parte interna, dos bastidores. Como criar, como fazer, o porquê disso, o porquê daquilo. E, a partir dali, a engenharia só veio a me transformar”, conta.

A entrevistada mora em Chapecó (SC) e é consultora de alimentos e responsável técnica da produção da empresa “Mais Pão”.

Silêncios que Nutrem Marta

Desafios da engenharia alimentícia

Para Marta, ser engenheira de alimentos é se desafiar e criar. É saber o que tem naquele alimento que será consumido. A profissional acredita que é mais prazeroso saber o que se ingere – seja bom ou seja ruim. 

Silêncios que Nutrem Marta

O que é mais desafiador em sua profissão? E o que é mais recompensador?

“Hoje eu te falo que a vaidade para a engenheira de alimentos, ela vem para atrapalhar. Então, hoje eu sou de boa, cara lisa. Maquiagem, adornos, unhas feitas; essas coisas limitam quem está no processo da produção. Acho que dentro de tantas restrições, essa é a mais pontual, assim, mais notória. E eu digo que a gente, em alimentos, a gente vive muito no branco, né? No branco, e a gente se transforma num ogro. Uma ogra. Porque é todo mundo de cara lisa mesmo. 

O mais recompensador é a vivência do processo de saber que, às vezes, você pega um ingrediente individual e cria algo fantástico. Ou você pega algo bruto na natureza e transforma em algo muito fantástico, que agrega muitas coisas. Isso é conhecer o processo e é fantástico na área de alimentos. Eu digo que quando a gente cria um alimento, é um filho, né? Porque foi você que criou, desde lá do início.

Ah, vamos criar um snack, vamos criar uma bebida diferente, vamos criar um pão diferente. A indústria favorece. Pra mim, o que me encanta é isso. É deixar para o mercado aquilo que passou por suas mãos.”

Quais são as tendências mais recentes na indústria de alimentos e como elas afetam o seu trabalho?

“Alimentos prontos à base de plantas, nessa pegada mais clean, mais enxuta. É uma pegada mais plant-based, que é muito importante e vai dominar nos próximos anos. Também deve haver mais melhorias.

Mas isso afeta diretamente na produção de pessoas e na modernização de equipamentos. Esse mercado abrange muito o intelectual dos profissionais. Embora a gente saiba tudo de uma lei, tudo de um nicho, a parte mecânica dos processos a gente precisa se reciclar. 

Eu terminei uma pós, tanto em rotulação quanto em melhoria de processo, e isso é para quê? Para que eu possa dar um suporte melhor aos meus clientes aqui. Eu trabalho muito com a rede de planificados, de farinhas, então isso vem em tecnologias. Então, esse impacto reduz as pessoas que não estão atualizadas. E aí tá vindo as carinhas novas, as pessoas mais jovens, as que estão empenhadas nos trazendo um brilho, né? Porque isso é muito importante, a renovação.”

Como é a rotina típica de um dia de trabalho para você?

“Hoje, como estou na consultoria, eu trabalho mais na parte teórica, trabalho nos regulatórios. Isso me dá uma flexibilidade muito grande. Eu posso estar aqui em casa hoje, amanhã eu estou viajando, depois posso estar trabalhando… É uma agenda mais aberta, mais flexível, me dá uma certa liberdade. 

Eu vou para a academia porque eu quero. Eu vou tomar um café com alguém à tarde num horário comercial que poucas pessoas podem. Então, isso é uma liberdade. Isso é algo diferente. Mas a rotina também depende dos clientes. No mais, é explorado conforme eu quero, né? Liberdade tem bastante.”

Silêncios que Nutrem Marta

Experiências e rótulos

No momento, Marta trabalha na área de pães, além de fornecer consultorias de alimentos, mas ela já passou por supermercados e é especialista em rótulos.

Você trabalhou em supermercados por alguns anos. Como era a rotina?

Ah, é mais louco. Por quê? Porque eu fazia o meu horário. Por exemplo, se eu tinha algum compromisso à tarde extra, eu ia pela manhã. O mercado abria às cinco da manhã e fechava às dez da noite, então eu tinha essa flexibilidade, eu que me virava. Então, a rotina de supermercado é muito gostosa, porque você trabalha com cliente e você trabalha direto com os colaboradores. É estressante? É. Porque em alguns momentos dá erros, aí está recebendo uma carga lá, tem que ir lá historiar. Então, tem esses calços.

Silêncios que Nutrem Marta

Atualmente, você trabalha mais com panificação. Há muitas tecnologias novas surgindo nesse meio?

“Muitas eu digo não, mas em termos específicos, ela está sendo melhor estudada, para melhor aplicação, para ser mais assertiva, para ela ser mais unitária. Porque hoje nós temos um trigo brasileiro que depende dos trigos de fora, e isso faz com que o Brasil importe muito esse produto. Mas a gente precisa se adaptar ao Brasil a essa melhoria de uso. Então, vejo que não há muitas, mas as que estão chegando, estão chegando com um desempenho muito bom. Só requer a gente apostar no aprendizado, se desafiar nele.”

Qual é a relação entre a rotulagem dos alimentos e a segurança alimentar?

“Ah, estão todas ligadas. A segurança alimentar é uma coisa ampla. Ela assegura que todos nós possamos ter a nossa alimentação, principalmente a básica das três refeições por dia. A partir do momento que nós precisamos dessa refeição para existência, nem sempre nos alimentamos do que é ideal. Muitas vezes nós nos alimentamos do volume, só para dizer que estamos alimentados. E para um alimento seguro impactar a alimentação, a rotulagem se faz necessária. 

A rotulagem se modernizou, ela precisou passar por essa atualização, para quê? Para mostrar para as pessoas que nós nos alimentávamos de alguns alimentos que eram omitidos do que ele continha. Ela exige que seja aberto para que o consumidor saiba do que está se alimentando e como isso vai impactar na sua saúde. Esse é um setor da saúde pública que evoluiu demais. Eu precisei me especializar nisso para aprender como um conjunto de legislações se amplificaram.

Então, a rotulagem está intrinsecamente ligada à segurança alimentar. o consumidor sabe o que tem ali dentro e vai se precaver. Antes ele comia, passava mal e não sabia. Hoje ele tem essa assertividade.”

O que faz um rótulo ser aprovado, ao seu ver?

“Para ser aprovado, o rótulo precisa ser condizente com o que a legislação nos cobra. Nós temos uma legislação e nós temos um código do consumidor. E eles nos mostram que nós não podemos levar ao consumidor ao erro ou ao engano. A gente precisa apenas falar o que tem naquele alimento para que a pessoa que vai ler possa entender. 

Hoje os conservantes, os aditivos que a gente chama, vêm para melhorar, para estabilizar. Porém, muitas pessoas entendem que esses aditivos vêm para piorar o alimento, como os ultraprocessados. E, atualmente, a rotulagem mostra que aquele alimento é impactado, mas que é o correto. A rotulagem bem feita é aquela que você conta a verdade, não deixa ninguém na dúvida. Ah, se tem açúcar, se tem gordura, se tem sal, se tem aditivo. Está ali contando. A gente não pode omitir.”

A Marta fora da indústria

Como uma boa profissional de alimentos, a comida faz parte de quem Marta é mesmo fora do trabalho. Além de ser uma leitora nata, a engenheira ama conhecer lugares e seus sabores – turismo culinário não pode faltar.

Quem é você sem o crachá?

“A Marta além do crachá é uma pessoa que gosta muito de conhecer lugares de alimentação, gosta de desbravar, porque eu viajo muito, né? O Brasil todo. Já morei em muitos estados. E aí eu gosto de conhecer esses alimentos. Se estou em Manaus, o que eu quero comer de diferente? Se estou em Fortaleza, o que eu quero comer de diferente? Eu moro aqui no sul, em Chapecó, eu já sei o que eu tenho. Então eu gosto de desbravar. 

Também gosto muito de ler, sou muito alegre, gosto muito de participar de coisas novas, às vezes na universidade também. Estou sempre buscando uma evolução.”

Qual a sua definição de sucesso? 

“Sucesso é ter três áreas ligadas e que não te deixem preocupado. Se as três estiverem bem, você terá sucesso. E é a sua vida pessoal – a parte emocional -, família e amigos. Muitas vezes a gente trabalha tanto e dá um duro danado para conseguir muito dinheiro, para depois chegar um momento e gastar todo aquele dinheiro para recuperar a saúde. Então, em algum momento eu pensei, me senti nisso e hoje eu digo que para mim está prazeroso. É um sucesso, depois de alguns anos de trabalho bem intenso. Eu digo que a gente tem que aproveitar enquanto é jovem, até os 30 você tem que ter em mente o que quer, onde quer chegar.”

Seja curioso e saiba onde quer chegar!

A bagagem de mais de duas décadas ensinou Marta que o tempo é muito importante. E a curiosidade também. Para os mais jovens, ela aconselha que descubram o que querem e usem o tempo ao seu favor. Já para o mundo, o gabarito é: seja curioso!

Se você pudesse mudar um passo na sua carreira, o que faria diferente?

“Teria começado mais cedo. Eu casei primeiro e eu me formei, casei muito novinha. E estou casada ainda com a mesma pessoa. 28 anos é uma vida! Eu digo isso porque eu senti falta de começar mais cedo, mas eu acredito que cada momento vem na hora certa. Mas eu incentivo, quanto mais cedo você começar, mais cedo você vai se encontrar. Vai saber se é isso mesmo, se quer firmar ou mudar de área.”

Se você tivesse 1min para mandar uma mensagem para o mundo inteiro, o que diria?

“Eu diria duas coisas. Se alimente o mais saudável possível dentro do seu bolso. E tenha sempre curiosidade de aceitar o novo. Porque nós, brasileiros, temos muita dificuldade em aceitar uma alimentação de outro país, principalmente que não seja americano, né? Então, eu diria isso. Seja curioso.”

Conversa boa passa rápido!

Essa foi nossa entrevista com a Marta, o que achou? Ela é a quinta entrevistada do projeto Silêncios que Nutrem, que busca dar voz àqueles do ramo alimentício que nunca estão estão sendo devidamente escutados.

Caso você queira se conectar com a Marta pelo Linkedin, você pode encontrá-la aqui.

Silêncios que nutrem. Veja as outras entrevista

 
Fale conosco
0

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

× .