Silêncios que nutrem
Silêncios que Nutrem: simplicidade no mercado e paz na vida são lemas de Sandra

Silêncios que Nutrem: simplicidade no mercado e paz na vida são lemas de Sandra

Com 20 anos de experiência, a engenheira de alimentos e empreendedora Sandra Seo é a sexta convidada do Silêncios que Nutrem

Sandra Seo tem 45 anos, convidada do Silencios que nutrem, é formada em engenharia de alimentos pela Universidade Federal de Santa Catarina. Com duas décadas de experiência que contemplam as áreas de gestão e consultoria, agora a especialista se aventura com a própria empresa: a STI Alimentos.

A empresária, que também está na rota final do doutorado, é a sexta entrevistada do nosso projeto Silêncios que Nutrem e deu detalhes sobre sua visão de vida e trabalho durante nossa conversa.

O plano é voar

Sandra, que se formou em 2004, explicou que foi parar na engenharia de alimentos sem muitos planos. Agora, apaixonada pela área, ela afirma não fazer projetos muito grandiosos pois vê sentido na simplicidade e gosta de trabalhar na base.

“Eu acredito muito nessa parte da simplicidade. Às vezes a gente tenta fazer muita inovação e a base ainda está tão fraca. Se a base não está fortalecida, o resto não vai, sabe? Então, eu acredito muito nisso”, explica.

O que te levou a trabalhar no ramo de alimentos?

“Eu, na verdade, queria outras coisas. Pensei em nutrição, pensei em odonto. Mas aí eu fui achando interessante essa parte de alimentação saudável, a questão dos constituintes dos alimentos, combinação entre eles. Eu sempre gostei, e eu sou taurina, né? Sempre gostei muito de comer. E aí eu fui me interessando por essa parte, assim, de formulação de alimentos, como cada nutriente poderia nos ajudar no organismo. Mas foi meio que assim… Não tinha um motivo muito assim, sabe? E hoje eu não trocaria essa área por nada. Eu sou apaixonada pela área de alimentos. Já aprendi um pouquinho de cada parte da área de alimentos. “

E como está a sua empresa? Quais são os serviços?

“Por enquanto eu tô cuidando de tudo sozinha na STI Alimentos. Eu comecei a pensar também em ter uma pessoa pra me ajudar, mas ainda faço tudo sozinha. É difícil porque eu não tenho essa expertise na gestão. Eu também preciso começar a investir mais.

Os serviços vão desde boas práticas de fabricação, que é o mais básico, né? Implantação, fazer o manual de boas práticas. Isso eu ainda faço bastante, que dá para fazer à distância também, né? Aí vai aprofundando. Faço a análise de perigos e pontos de controle.

Eu trabalho muito com parcerias. Eu tenho muito network, muito contato, né? Então eu vou canalizando isso, falando ‘ah, eu poderia chamar tal profissional que poderia me auxiliar nessa consultoria.’ E aí vai ampliando o leque e graças a Deus, assim, hoje, mesmo não prospectando, os clientes estão vindo até mim, porque acaba que um vai falando pro outro, né? E a divulgação boca a boca, para mim, ainda é a melhor que tem, né? E as parcerias, né? A gente sozinho não faz nada, né?”

Eu queria saber o que é mais desafiador na sua profissão.

“Agora, no que eu estou trabalhando, é realmente manter-se informado, já que eu trabalho para a parte de assuntos regulatórios. Então, eu vejo que as informações estão voando. Eu acho muito desafiador essa questão de você trabalhar sozinho e conseguir estar por dentro de tudo, fazer… A parte administrativa, sabe? Logo, logo, acho que eu vou precisar de uma equipe pra me ajudar.”

E o que é mais recompensador?

“Ah, mais recompensador é ver que você ajudou o cliente mesmo. Ver que você ajudou, que ele tá feliz, que ele tá ali nas próprias redes sociais ali te agradecendo. A maior felicidade não precisa nem ser rede social, mas é ver, assim, a pessoa agradecendo, falando ‘olha, você me ajudou a crescer’. Isso me deixa feliz.”

Como é a rotina típica de um dia de trabalho para você?

“Quando eu ia trabalhar em campo era bem exaustivo. Eu tinha que viajar muito. Mas quando tá ali na empresa, quem gosta, quando gosta do que faz, é muito gostoso. Só é pesado porque você tem que ficar ali na produção, acompanhando tudo. Realmente acompanhando pra entender o que eles estão passando pra poder ser mais assertivo na solução do problema. Então, assim, é bastante cansativo no sentido que você fica muito tempo em pé. Tempo falando, orientando… mas ao mesmo tempo é gostoso. Eu gosto de ensinar também.

Agora estou mais em casa mesmo, trabalhando no computador. Então, exige muito do mental. Precisa de muito foco para não errar. Exige um pouquinho mais da cabeça mesmo.”

Quais são as tendências mais recentes do mercado e como isso afeta o seu trabalho, seus projetos, sua empresa?

“As tendências? Eu estive agora recentemente na Naturaltech, que é a maior feira da América Latina de produtos naturais e orgânicos. Eu sempre tendo para esse lado, porque é um estilo de vida que eu adotei para mim. Então eu vejo que o maior desafio é tirar o açúcar. Continuar produzindo doces, mas com menos essa questão dos açúcares, com menos gordura saturada. Eu vejo que tem muita gente virando vegana também, vejo que essa é uma tendência forte. Não tem mais volta. Todo mundo indo para essa parte mais natural, orgânica.

Como afeta? Eu vejo mais essa questão mesmo de ter que dedicar mais tempo estudando essas tendências. Estudando e também vivenciando.”

Tem algo que você ainda deseja fazer na sua carreira? Quais são os planos para o futuro?

“Meu plano agora é que eu consiga fazer minha empresa crescer. Ter mais parceiros trabalhando comigo. Eu tenho muita vontade de poder expandir isso para o mundo. Eu quero ter parceiros fora do Brasil para realmente voar.”

 

Micro-organismos e autoconhecimento

Na hora de escolher onde fazer o doutorado, a UFSC atraiu Sandra por ser em Florianópolis. “Eu sempre tive vontade de morar lá, né? Eu me identifico muito com Florianópolis.”

Depois de dois anos de estudos e muito autoconhecimento, a engenheira pediu demissão do emprego da época para ficar por lá mesmo e não voltar. Ela então resolveu abrir a empresa de consultoria e agora está “construindo devagarzinho”.

Eu queria saber um pouco mais sobre o seu doutorado. O que você está estudando?

“Eu voltei para a Universidade Federal de Santa Catarina, que é onde eu me formei mesmo. Eu fiz o mestrado em Cuiabá, mas eu fiz mais em ciência e tecnologia de alimentos. E eu queria voltar para a área de engenharia. Meu foco era aprender um pouco sobre microbiologia preditiva. Não sei se você já ouviu falar.

A gente modela matematicamente o comportamento dos micro-organismos, em determinados padrões de temperatura, pH, atividade de água, os fatores que influenciam o crescimento microbiano. E aí a gente vai estudando o comportamento dessas bactérias em determinadas condições para prever ali um comportamento. E a minha tese está sendo sobre desenvolver um equipamento de plasma frio.

O plasma frio é o quarto estado da matéria. Tem o estado sólido, líquido e gasoso. Ele é um gás ionizado. Então, a ideia é desenvolver um equipamento que é um processamento não térmico. Normalmente, quando você quer diminuir a contaminação microbiana, a gente utiliza os processos térmicos, né? Cozimento, fritura… Então, a gente quis desenvolver um equipamento não térmico. Aí são os íons ali que vão entrar dentro da célula bacteriana e fazer com que ocorra a inativação dessas bactérias.

Nós – eu, meu orientador e co-orientadores – tivemos um trabalho gigante com físicos, até pessoal de química também, porque envolve muita química ali, né?”

E como está sendo a experiência?

“Ah, fantástica. Dá pra ver que não tinham empresas aqui no Brasil que estavam desenvolvendo esse tipo de equipamento para alimentos, então a gente foi um dos primeiros. Inclusive, só tinha um equipamento lá na Austrália. A gente teve reunião com eles e foi trocando ideia, pegando um pouco de conhecimento e tentando desenvolver aqui no Brasil mesmo, com os físicos.

Eu não posso falar muito porque é um projeto que tem confidencialidade, que é com uma empresa multinacional. Então, eu não posso falar muito. Mas, basicamente, é isso.

E o doutorado está sendo muito importante pra eu me conhecer melhor, refletir sobre o que eu quero da vida. Muita gente que me criticava, falava ‘você parou de trabalhar e foi voltar a estudar, só fica estudando.’ Não vou voltar atrás e não vou deixar ninguém me influenciar. Vou firme no meu propósito, que era mesmo me autoconhecer melhor e saber o que me deixava mais feliz.”

Você pensa em um pós-doutorado?

“Não, por enquanto eu não penso em ir para um pós-doutorado. Só se aparecesse alguma oportunidade de ir para fora do país, né? Mas por enquanto eu gostaria mais é de empreender mesmo e poder ajudar as empresas a crescer no mercado.”

O sucesso é ter paz

Fora do trabalho, Sandra ama a natureza e passar mais tempo com a família. Para ela, o sucesso é estar em paz.

Quem é você além do seu crachá?

“Eu sou uma pessoa assim que adora a natureza. Para mim, fazer uma trilha é muito gostoso, sabe? Ficar ali contemplando, só olhando o mar, ouvindo o barulho dos pássaros. Eu gosto muito. Gosto também de fotografia. Não sou profissional, mas gosto de tirar fotos de natureza, de animais. E viajar, né? Adoro viajar, adoro comer. Então, assim, sempre que eu posso, eu vou em algum café diferente, eu gosto de explorar. restaurantes, restaurantes veganos, vegetarianos…”

O que é sucesso para você?

“Para mim, sucesso é você estar em paz, sabe? Estar em paz consigo mesmo, não ficar tão preocupado com a opinião dos outros. Cada um tem uma vivência, um jeito de pensar.

Por muito tempo eu procurei o sucesso, e eu achava que o sucesso era eu alcançar um alto salário, trabalhando. Hoje eu vejo muitos amigos meus que hoje alcançaram isso e estão doentes. Tem pessoas que estão bem, mas a maioria, se você conversar, tem algum problema de saúde, familiar, sabe?

Chegou um ponto que eu só falei ‘quero ter paz, quero ter paz’ Claro que tem que trabalhar, tem que ralar, mas fazendo o que você gosta e no seu tempo.

Então, eu acho que hoje eu consegui o sucesso que eu queria, sim. Porque, apesar de ter outras ambições, o que eu tenho dá para fazer tudo o que eu quero. Viajar, estar com a minha família… Também tem a questão da espiritualidade, por muito tempo eu larguei e agora vejo o quanto é importante. Não dá pra viver sem, fortalece muito.”

Se você pudesse mudar algo na sua carreira, você mudaria? 

“Não mudaria nada. Se eu tivesse mudado alguma coisa, eu não teria chegado onde cheguei hoje. Eu já pensei muito, e se eu não tivesse ido fazer o doutorado? E se eu tivesse aceitado outra proposta? Mas eu não penso mais assim, agora penso que se eu mudasse alguma coisa, não teria conseguido o que consegui.”

Se sua vida fosse um livro, qual capítulo não poderia faltar?

“O capítulo da minha família. A família é minha base. Então, não pode faltar mesmo. Porque todas as vezes que eu precisei, a família sempre esteve ali. Qualquer coisa que eu decidi, eles sempre me apoiaram. A gente tem que valorizar quem valoriza a gente.”

Conversa boa passa rápido!

Essa foi nossa conversa com a Sandra, o que achou? Ela é a sexta entrevistada do projeto Silêncios que Nutrem, que busca dar voz àqueles do ramo alimentício que não estão estão sendo devidamente escutados.

Caso você queira se conectar com Sandra, você pode encontrá-lo aqui.

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