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Upcycling fashion: veja 10 alternativas ao couro feitas de resíduos

Upcycling fashion: veja 10 alternativas ao couro feitas de resíduos

Na busca por substitutos para o couro tradicional, nosso blog encontrou dez alternativas ao couro, todas upcycled, feitas a partir de resíduos da agroindústria de alimentos. Conheça aqui.

O couro é um material produzido a partir da pele curtida de animais como vacas, cabras, porcos e ovelhas. 

Embora seja considerado um material nobre e amplamente usado na fabricação de roupas, calçados e acessórios, o couro tradicional possui um impacto ambiental alarmante. 

O processo de curtimento, por exemplo, gera poluição liberando água residual saturada de cromo — uma substância tóxica e cancerígena — que se for liberada nos cursos d’água, envenena o ecossistema. Além disso, a própria pecuária, que sustenta essa indústria, contribui para as emissões globais de gases de efeito estufa agravando a crise climática.

Diante desses desafios, a busca por alternativas ao couro animal tem ganhado força.

Nesse texto, usamos o termo pois estamos falando de produtos que visam mimetizar o couro tradicional.

1. Couro de cerveja

A dupla de empreendedores, Brett Cotten e Edward Mitchell, se conheceu em 2022 numa rua repleta de cervejarias artesanais em Londres. A partir daí eles perceberam o potencial dos grãos descartados na produção de cerveja e veio a ideia de fundar a Arda Biomaterials, para transformar resíduos de cerveja em uma alternativa ao couro.

Alternativas ao couro feitas de bagaço de malte
Imagem: Arda

Dependendo do tipo de grão, a cor do material varia, desde preto para cervejas escuras até tons de marrom para pale ales e lagers. Apenas 10% do suprimento mundial de grãos de cerveja usados seriam suficientes para atender à demanda global por couro. Para se ter uma ideia, a Arda usa até 20kg de grãos para fazer uma bolsa, enquanto seriam necessárias 16 vacas para estofar um carro inteiro.

Imagem: Arda

A Arda planeja lançar seus produtos para marcas e designers no final de 2024.

2. Couro de maçã

O estúdio de design japonês Sozai Center criou o Adam Sheet, um biomaterial lavável e resistente a arranhões feito de resíduos de maçã misturados com bioplástico, uma pequena quantidade de cloreto de polivinila (PVC) de base biológica para ligar a folha final. O material impermeável e lavável à máquina é resistente a arranhões.

Nomeado de forma lúdica em homenagem às maçãs de Adão, o Adam Sheet foi projetado em resposta ao grande volume de resíduos de maçã criados anualmente na Prefeitura de Aomori – algo que Oshima disse ter se tornado um “grande problema”.

Alternativas ao couro feitas de bagaço de maçã
Imagem: Designboom

Outra empresa a produzir couro com bagaço de suco de maçã é a Vegatex. Além de maçã, eles possuem alternativas de couro de resíduos da produção cervejeira e de suco de limão.

O processo da Vegatex, do resíduo ao material pronto/ Imagem: Vegatex

3. Couro de cogumelos

Biotech brasileira natural de Ponta Grossa (PR), a Muush desenvolveu um couro upcycled à base de micélio – a parte vegetativa do fungo – com biotecnologia e resíduos agroindustriais.

Surgindo como uma alternativa sustentável ao mercado, para cada metro quadrado de biotecido, a Muush reaproveita 20 kg de resíduos.

Alternativas ao couro feitas de micélio de cogumelo
Imagem: Muush

A startup norte-americana MycoWorks também produz couro a partir de cogumelos, mas da espécie Ganoderma lucidum. Também conhecido como cogumelo Reishi, essa espécie é muito popular na Ásia onde é usado para fazer remédios e chás. Já falamos dela aqui.

Uma das vantagens desse material é que é possível manipular o formato e tamanho durante o desenvolvimento. Para chegar ao tamanho de uma peça de couro bovino demora apenas 3 semanas, enquanto o boi demora cerca de 3 anos do nascimento ao abate.

4. Couro de abacaxi

O Piñatex, tecido da empresa Ananas Anam, usa resíduos de abacaxi para produzir fibras têxteis. O tecido, semelhante ao couro, pode ser tingido, impresso e tratado para obter diferentes texturas. 

O processo de produção envolve a extração das fibras do caule e das folhas do abacaxi e sua biomassa passa por um processo industrial para se tornarem tecido. Para produzir um metro quadrado de Piñatex, são necessárias 480 folhas, o subproduto de 16 abacaxis. 

Alternativas ao couro feitas de coroa de abacaxi
O material evoluiu ao longo dos anos./ Imagem: Ananas Anam

Este é um caso de uma das pioneiras nas alternativas ao couro, uma startup de upcycling que conseguiu atravessar o “vale da morte” das startups e chegar ao décimo ano de vida, um feito e tanto! Seu primeiro tecido foi lançado em dezembro de 2014, e nós mostramos ele aqui em 2015.

PS: O vale da morte é o período em que as empresas operam com caixa negativo até conseguirem atingir o ponto de equilíbrio. Estima-se que 1/4 das startups morram no primeiro ano e metade delas fechem até o quarto ano de vida.

5. Couro de banana e manga

A startup francesa Vegskin desenvolveu uma alternativa ao couro feita de banana e manga. A empresa surgiu com o objetivo de combater o desperdício alimentar e criar produtos sem crueldade animal. Para isto, utiliza alimentos descartados pelo varejo, processando cerca de 100 toneladas de bananas para criar entre 5 a 8 mil metros quadrados de couro vegetal. 

Alternativas ao couro feitas de casca de banana
Imagem: Species Unite

Outra empresa a usar resíduos de banana como matéria-prima para seu tecido é a indiana Banofi Leather, que extrai as fibras das cascas de banana, adicionam uma mistura de gomas e adesivos naturais e finalizam com corantes e revestimentos. O material é então revestido sobre um suporte de tecido, resultando em um material durável com 80-90% de base biológica.

Banofi Leather: mistura de fibra de casca de banana, aditivos naturais e sintéticos./ Imagem: Banofi Leather

6. Couro de casca de uva

A estilista inglesa Stella McCartney e a marca de champanhes Veuve Clicquot desenvolveram um couro sustentável a partir do bagaço de uvas. Inclusive, o produto fashion criado pela filha do beatlhe Paul McCartey e a Veuve já foi citado em um dos nossos posts!

Alternativas ao couro feitas de casca de uva

A linha, chamada Vegea, inclui bolsas e sapatos upcycled feitos de caules e cascas de uva, resíduos da produção de champanhe. 

7. Couro de chá

Outra invenção foi o couro de resíduos da indústria de chá seco, criado pela empresa turca Wastea. Os resíduos de chá têm poucas aplicações devido ao alto teor de cafeína, mas agora existem novas utilidades.

Imagem: Design Wanted

Também já falamos sobre esta e ouras soluções de upcycling para resíduos de chá neste post aqui.

8. Couro de flores

Nosso blog também já citou outra alternativa, o couro de flores, desenvolvido por uma startup indiana, a Phool. Confira aqui.

Imagem: Phool

9. Couro de camarão e borra de café

A startup de biomateriais TômTex, sediada no Brooklyn, está transformando resíduos de cascas de frutos do mar em um tipo de “couro” feito de quitosana, um polímero extraído dessas cascas. 

Imagem: Dezeen

Em colaboração com o designer Peter Do, TômTex lançou um top e uma calça feitos com esse material, que recebeu uma camada de cera de abelha para um acabamento brilhante. 

A empresa coleta as cascas no Vietnã, extrai a quitosana, mistura com água, borra de café de cafeterias locais e aglutinantes não tóxicos, e molda o material em um tecido macio e durável. Quando um produto Tômtex chega ao fim de sua vida útil, ele pode ser biodegradado. 

10. Couro de água de coco

A indústria de coco maduro tem como resíduo a água de coco (sim, é estranho pensar nisso, mas a água de coco que você bebe na praia é do coco verde!) e na Índia estas águas residuais seriam lançadas no sistema de drenagem, poluindo a água e causando acidificação do solo. Diariamente, uma pequena unidade de processamento de coco descarta até 4 mil litros dessa água por dia.

A Malai utiliza essa água de coco para alimentar sua cultura bacteriana num processo de fermentação que dura de 12 a 14 dias. O material resultante passa por um processo de enriquecimento com fibras naturais, gomas e resinas, podendo levar ainda corantes.

A sustentabilidade não é “preto no branco”

Vital para a indústria da carne, o couro representa cerca de 10% do valor de uma vaca. Se por um lado sua produção causa grande impacto ambiental devido ao uso intensivo de energia e químicos como cromo e formaldeído, além do próprio impacto da atividade pecuária, por outro as alternativas ao couro não são isentas de impacto negativo.

Algumas possuem plásticos em sua composição, além de aditivos sintéticos para mimetizar as propriedades do couro. Além disso, por ser menos durável, as roupas e objetos feitos com esses tecidos precisam de troca muito mais cedo, contribuindo para o superconsumo, algo que está longe de ser sustentável. Vale lembrar que, com o devido cuidado, uma roupa de couro convencional pode durar décadas.

Portanto, ainda que as alternativas ao couro sejam materiais promissores, principalmente as que são upcycled, o reinado do couro tradicional talvez esteja longe de acabar, e isso não é necessariamente ruim.

Referências: Gazeta Rural, Ciclo Vivo, Science Friday, Core 77, Fast Company, Dezeen, Pensamento Verde, Vegan Business, Exame, Ecycle, VegConomist, Muush.br, Ecycle, Springwise, Katie Kutskill

 
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