Papel higiênico sustentável: reinventando o rolo com upcycling
Falar sobre papel higiênico, à primeira vista, não pega bem – e olha que eu nem vou fazer trocadilho sobre cheirar bem. É um produto tão entrosado na nossa cultura, que quase ninguém fala dele, mas ele está lá, poluindo o planeta todos os dias.
Existem alternativas de papel higiênico sustentável, mas antes, precisamos falar sobre o impacto desse item indispensável nas nossas vidas. Sua história começa bem antes desse rolo chegar ao seu banheiro e continua muito depois de seu descarte.
Todos os dias quase 30 mil árvores são desmatadas e viram matéria-prima para a produção de papel higiênico que, após o uso, termina em aterros. Só no Brasil, cada habitante utiliza em média 6kg de papel higiênico todos os anos, mas como nem todos possuem acesso ao item, principalmente em comunidades carentes, uma melhora nas condições de saneamento básico ainda deve aumentar esses números.
As árvores em questão são, na maioria da vezes, monoculturas de eucalipto que, além de prejudicarem a biodiversidade animal por serem “desertos verdes”, demandam grande quantidade de água, pesticidas e fertilizantes em seu cultivo.
O impacto não para por aí, a produção demanda energia para secagem e o branqueamento à base de cloro torna o produto ainda mais poluente.
De volta às origens com folhas de boldo
A folha de boldo, aquela que você já deve ter consumido desidratada para fazer chá, ela pode ter outros usos. “Papel” higiênico” é um deles.
Com tamanho semehante a um quadrado de papel higiênico industrializado, a folha é macia, naturalmente biodegradável e financeiramente acessível, principalmente na África, onde é amplamente cultivada. Sua produção em larga escala ainda é algo distante, no entanto, seu potencial está sendo explorado em outros países.
Essa sabedoria dos povos ancestrais nos mostra o caminho para mudar nossa relação com a natureza. Quando futuristas dizem que “o futuro é ancestral”, é sobre isso que estão falando.
Papel higiênico sustentável com resíduos de citricos
A israelense Avia Revivi, estudante de design industrial, frequentemente se deparava com papéis higiênicos usados ao longo das trilhas que percorria na natureza. Apesar de biodegradável, uma folha de papel higiênico demora cerca de 3 anos para se decompor.
O-Sow nasceu da necessidade de sua fundadora. São folhas de papel higiênico upcycled projetadas para uso por caminhantes e campistas. Feitas de resíduos cítricos, aloe vera e sementes de plantas, as folhas de O-Sow são flexíveis e resistentes e biodegradam em apenas cinco dias quando descartadas no solo.
Cada folha contém sementes diferentes – hortelã, peônia, rosa, salsa e agrião – cuja germinação é auxiliada e nutrida por dejetos humanos ricos em nutrientes.
Além de ser um produto upcycled, sua embalagem também é. Feita de resíduos de tecido de paraquedas, ela funciona como uma bolsinha portátil para uso em trilhas e viagens.
Papel higiênico feito de papelão reciclado
Se você prefere o convencional, que tal uma versão aprimorada dos rolos tradicionais? A rede de supermercados britânica Tesco está transformando caixas de papelão descartadas em rolos de papel higiênico de sua linha de marca própria. Em vez da celulose virgem, a empresa utiliza o papelão das caixas de seu serviço de delivery que, após as etapas de limpeza e refino geram o novo papel com tonalidade marrom claro. É um papel higiênico sustentável sim, mas bastante parecido com o tradicional branco.
E se repensássemos esse item de consumo que faz parte das nossas vidas e questionássemos aquilo que parece uma verdade absoluta para construir inovações mais sustentáveis?
Abrir mão do papel higiênico pode ser uma medida extrema, mas será que lee precisa ser de papel? Tem que ser branco? Precisa ser feito de matérias-primas virgens? Precisa ser insustentável?
Referências: Ecycle, Trendwatching, NRDC, Design Indaba, Design Boom, BBC
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